O acidente vascular cerebral é uma doença impactante para quem a sofre e para os seus familiares. Mas por que é assim? A maioria das pessoas tem uma visão fatalística desta doença, pois é séria, comum, de rápida evolução e incapacitante. Felizmente as pesquisas nas áreas médica e de reabilitação nos últimos anos têm auxiliado para que as pessoas que sofreram um AVC vivam em condições cada vez melhores. O sucesso do tratamento também depende de uma colaboração verdadeira entre a equipe de saúde, o paciente, membros da família ou outras pessoas próximas como os vizinhos e os amigos que passarão a cuidar da pessoa acometida.

Após um AVC, dependendo da sua localização e extensão da lesão as conseqüências podem ser físicas, de sensibilidade, visuais, cognitivas e emocionais. Tudo muda, em menor ou maior grau, na esfera familiar, das relações no trabalho e relações sociais.

O individuo acometido por um AVC precisa reformular seu modo de vida e isso afeta diretamente não só a ele como também todos que o cercam. As dúvidas surgem, todos querem entender o que é o AVC, quais são suas causas, as conseqüências, duração das seqüelas, probabilidades de recuperação e principalmente como se comportar e agir frente a esta nova realidade.

O conhecimento sempre foi e será a melhor maneira para entender, aceitar e então auxiliar na reformulação do modo de vida, permitindo que o indivíduo acometido por AVC tenha uma vida o mais independente possível e que seus familiares e amigos possam interagir e vê-lo como alguém que passou a ter algumas limitações mais que tem muitas possibilidades. Que é uma pessoa que precisa de atenção, carinho, amor e acima de tudo respeito pelos novos limites e desafios impostos pelo AVC.

A família é o grupo social que certamente vai sentir com maior peso as conseqüências de um AVC, pois sua rotina será totalmente alterada, em alguns casos mais sérios de maneira drástica, levando inclusive a necessidade de recorrer a ajuda especializada nas atividades do dia a dia para não sobrecarregar permanentemente algum membro em especial.

Todos os familiares são afetados pela lesão cerebral, não somente a pessoa com lesão ou o cuidador principal dela. Muitas vezes os profissionais da saúde e os adultos de modo geral ignoram as necessidades das crianças que tendem a ser isoladas durante o período de hospitalização e podem ter um acesso restrito a informação. Por isso é importante que todos na família, especialmente os mais jovens, entendam o que está acontecendo, quais as limitações, mas também os novos caminhos que podem e devem ser trilhados.

Como sugestão de leitura para os mais jovens indica-se o livro de Dori Hillestad Butler, “Vovô teve um AVC” da editora Artmed. Esta obra auxilia as crianças a enfrentarem o medo e a mudança familiar. Conta a história de um garoto que adora sair com seu avô para pescar, porém quando ele tem um AVC, tudo muda, o garoto fica confuso, assustado e preocupado com o estado do seu avô. Começam a surgir muitas perguntas: o que é um AVC? Por que o vovô não mexe o braço? Quem vai cuidar dele?

Esta é uma leitura ideal para as famílias com filhos pequenos, oferece informações valiosas e aborda os diversos sentimentos das crianças que como se constata durante a leitura não é muito diferente das emoções dos adultos.

Liliana Beatriz Etchatz Fenili – Terapeuta Ocupacional – CREFITO 10/3137-TO